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O trânsito e seus responsáveis
A conquista da CNH e a responsabilidade das autoridades e dos cidadãos para manter um trânsito “saudável”
por Letícia Rovere
O sonho da independência, para muitos, pode começar com a conquista da carteira nacional de habilitação (CNH). Mas para tal realização é necessário passar por uma série de etapas: inscrição na delegacia de sua cidade; exame médico; exame psicotécnico; 45 horas/aulas do curso de formação de condutores (CFC); prova teórica aplicada pelo DETRAN, Departamento Estadual de Transito, a qual o candidato consegue sua Licença de Aprendizagem de Direção Veicular (LADV), se aprovado; 20 aulas práticas; e finalmente o exame prático. E a partir desse mês de maio o aluno deverá fazer, ao menos, quatro aulas no período noturno.
A nova lei, que entrou em vigor no dia 17 de maio deste ano, prevê que 20% das aulas práticas sejam realizadas durante a noite, pois 40% dos acidentes de trânsitos que ocorrem no país acontecem quando a visibilidade de placas, pedestres e obstáculos é mais difícil, exigindo que o motorista tenha atenção redobrada. Esses dados foram divulgados pela Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet).
Com tanta burocracia o que cai em cheque é se o sistema utilizado para verificar se as leis são cumpridas é eficiente. Para a fiscalização os alunos e os instrutores colocam suas digitais, no inicio e no término das aulas. “O sistema foi feito e programado para ser eficiente, não sendo possível fraude”, afirma o CIRETRAN de Louveira, que tem a responsabilidade de exigir e impor a obediência e o devido cumprimento da legislação de trânsito no município. Porém, acaba recebendo algumas críticas. “Esse sistema acaba perturbando o instrutor, por que tem que trabalhar em cima da hora, e acontece de perder o horário, e aí ocorre uma demora por que até o aluno não ter as 20 aulas cadastradas, ele não pode ser inscrito na prova prática”, contesta Neusa Orestes de Oliveira, dona e instrutora de auto-escola. Com 42 anos na profissão, Neusa concorda que a cada dia eles procuram melhorar, porém ela não gosta de pensar em números fixos pelas leis. “Eu gosto de pensar que o aluno tenha capacidade, não importa se tenha 15, 20 ou 30 aulas, por que com a experiência que tenho, não é o número que vai fazer o aluno aprender ou não a dirigir”. E ainda completa dizendo que muitos candidatos chegam à vigésima aula e ainda estão na “metade do caminho”, ou seja, não estão aptos para sair sozinhos no trânsito.
Um ponto negativo do sistema utilizado para fiscalizar as auto-escolas e os alunos é que por ele ser online, muitas vezes acaba saindo ar, e com isso alunos e instrutores perdem as aulas.
Neusa sempre defendeu aulas em rodovias, mas a legislação de trânsito é bem clara: a aprendizagem somente poderá realizar-se nas zonas e horários estabelecidos pelas repartições de trânsito, sendo proibida nas estradas – artigo 135 do Regulamento do Código de Trânsito. “Se as autoridades tivessem um pouco mais de consciência, ao invés de ficarem pensando em 20 aulas obrigatórias, colocar a digital, elas deveriam exigir, pelo menos, meia dúzia de aulas em rodovias”. Pois é nas rodovias que os motoristas deslancham e precisam estar totalmente atentos com os perigos a sua volta. Por isso que ela concorda e apóia as aulas de aperfeiçoamento, em que os motoristas, já com a permissão, primeira habilitação, podem dirigir nas rodovias e sair de sua cidade. “É de fundamental importância essas aulas para iniciantes”.
“A população precisa de uma reeducação, mas como isso é bem difícil, a tecnologia dos sistemas atuais força para que as leis sejam seguidas”, conclui o CIRETRAN. Com essa crítica a população e as auto-escolas, é possível notar a dificuldade que se tem quando o assunto é a moral e a ética das pessoas. A responsabilidade de um instrutor é grande, pois são eles que “formam” os motoristas que estão nas ruas durante o dia todo e expostos a todo momento há uma nova situação que talvez nunca imaginariam presenciar, e muitas auto-escolas esquecem desse fator de primordial importância, “e é nessa ansiedade de apenas ganhar dinheiro, muita auto-escola acaba colocando muitos criminosos na rua”, afirma Claudionor Stranguetti, educador e professor de CFC.
Uma pessoa que tirou sua CNH precisa ter responsabilidade e educação na vida agitada do trânsito. “A pessoa não traz a educação de casa, o saber dar o espaço para outra e o saber conservar os direitos de ambas as partes”, afirma Stranguetti. E conclui dizendo que a legislação de trânsito brasileira é “ótima, mas precisa ser cumprida”. Neusa também concorda com a falta de educação existente no trânsito brasileiro, e diz que muitas desgraças acontecem devido à “ignorância” dos seres humanos. “Falta colocar a mão na consciência antes de agir”.